O dia 25 de Abril de 1974 mudou a minha vida porque até então não havia liberdade de expressão.
Travávamos uma guerra na qual estavam dois tios meus, que depois do 25 de Abril vieram para casa.
Quando se deu o 25 de Abril eu tinha na altura 6 anos, estava a dormir. Por voltas das 7 ou 8 da manhã a minha mãe, que saíra de casa para o trabalho, entra novamente em casa e diz que as ruas estão todas cortadas e não sabe o que se passa. Tentamos ligar o rádio e não diziam nada a não ser para as pessoas ficarem em casa. Só pouco tempo depois é que se sabe que estava a decorrer um golpe de estado e que as pessoas começaram a ir em massa para o Rossio e Terreiro do Paço.
Lembro-me de estar em dois comícios na altura, um no 1º de Maio de 74 e outro na Praça de touros no Campo Pequeno.
Só há pouco tempo soube que no comício de 1 de Maio estava para cima de 1 milhão de pessoas. Nunca Portugal teve ou terá uma manifestação como esta e eu estive lá. Na segunda também esteve muita gente mas nada se compara à primeira.
As consequências deste acontecimento a título pessoal foram financeiras porque o meu pai, logo após o 25 de Abril, começou a receber um pouco mais. Por isso começámos a ter um nível de vida um pouco melhor. Também começou a haver mais produtos em todas as partes pois o país abriu-se para o exterior.
Por exemplo, em Portugal a Coca-cola não se vendia, mas depois do 25 de Abril já havia Coca-cola por toda a parte. Este foi um exemplo, entre muitos outros, daquilo que começou a aparecer nas lojas.
Sei que se começou a ouvir outros estilos de música que até ao 25 de Abril não era possível ouvir porque o regime não deixava. Também se ouviu pela primeira vez a palavra manifestação.
Sei que o mundo ficou muito intrigado com esta revolução porque se fez sem o derramamento de sangue. Pelo meu ponto de vista tal só foi possível porque a população se juntou aos revoltosos, e o secretismo em que decorreu também contou muito.
